37 coisas que aprendi em 37 anos

Leo Espinosa

Completei há pouco tempo 37 anos de idade. Enapá!

Sinto que sou mais nova do que o meu bilhete de identidade diz, mas quando estou ao lado de gente na casa dos vinte, sinto que estou noutro patamar – e estou mesmo 😉

A idade traz, efectivamente, maturidade. Há coisas que só sei agora, sei por dentro e não por fora. Ou seja, tenho essa experiência e não estou apenas a reproduzir um chavão mil vezes repetido. É como a questão da empatia, temos de encontrar a emoção em nós para podermos fazer um paralelo com o que outra pessoa sente e esse repertório só se adquire na prática.

Assim sendo, aqui estão umas coisas que fui aprendendo ao longo desta minha vida:

  1. Não sei nem nunca saberei tudo, por isso já perdi o complexo de não estar a par de… Cheguei a uma altura na vida em que assumo as minhas escolhas. Decido ler sobre isto e não aquilo, estar a par de umas notícias sobre determinado aspecto ou assunto e não saber de tudo um pouco. Por isso deixo – deliberadamente – áreas por explorar, sem complexos. Pura e simplesmente não dá para ir a todas, o tempo é limitado e ao decidir especializar-me em determinada área, tenho de deixar outras de lado. E depois?
  2. Há poucas coisas tão gratificantes como boas relações humanas.
  3. As boas relações interpessoais exigem muito trabalho, dedicação, disponibilidade e flexibilidade. Não é nada fácil!
  4. Das relações mais difíceis de manter é a de casal. Partilhar a casa, a cama, com outra pessoa, implica uma grande capacidade de escuta e compreensão do outro, a todos os níveis. Nem sempre temos essa abertura e disponibilidade, mas é primordial para o nosso equilíbrio, individual e de casal.
  5. Uma boa relação de casal é do melhor que podemos deixar aos nossos filhos, porque modelamos. Isso não implica não haver discussões ou chatices, mas a forma como lidamos com as mesmas ensina muito à miudagem.
  6. Nem sempre as coisas são como idealizamos e há relações que rompem e muitas vezes isso é o melhor que acontece, porque mais vale a maternidade ou paternidade a sós do que ter um clima de agressividade. As relações querem-se saudáveis e não tóxicas e esse deve ser o objectivo principal.
  7. Ter filhos não completa nenhuma parte de nós. Ter filhos não é nada de mágico que vem passar uma varinha mágica numa qualquer parte da nossa relação com o mundo. É a coisa mais exigente que temos pela frente e a tarefa é tão enorme que ainda bem que os dias correm um a seguir ao outro, senão caíamos para o lado!
  8. Ter filhos é como se fosse uma oportunidade de ouro, ainda que ‘imposta’, de nos auto melhorarmos. Isto porque os putos carregam nos botões todos todos todos que doem e fazem com que saia de nós o nosso melhor e o nosso pior. E esta 2ª parte é lixada de assumir, quanto mais de corrigir!
  9. A auto consciência e auto controlo são igualmente tramados. É fácil ver tudo nos outros, porque vemos de fora. Quando estamos por dentro, a tarefa é bem mais complicada, tal como o ponto cego do olho, está lá mas não vemos.
  10. Não é apenas a nível familiar que as relações pessoais são importantes – ter um bom ambiente no trabalho não tem preço!
  11. A gentileza é, então, um dos maiores bens que podemos ter. Acho que foi o Roald Dahl que disse que a gentileza é bem melhor do que a inteligência e não sei se não abre mais portas!
  12. A crítica é sempre mais fácil, mas é o oposto da conexão.
  13. É mesmo muito muito fácil julgarmos os outros e assumirmos uma atitude arrogante, mas não sabemos as lutas que os outros travam que fazem com que reajam de forma agressiva…
  14. Isso não implica que temos de nos colocar a jeito para sermos mal tratados. O melhor é afastarmo-nos de quem nos fala ou trata mal. Xô, gente tóxica!
  15. A atitude é meio caminho andado para uma vida plena. O copo meio cheio é uma decisão, diária. Deve ser mais fácil para umas pessoas do que para outras, mas a gratidão é uma boa forma de praticarmos a perspectiva do copo meio cheio.
  16. É bom e saudável termos amigos que são mesmo diferentes de nós. É sabido que nos aproximamos de quem se assemelha a nós, mas às vezes basta um mínimo denominador comum. Uma das coisas mais importantes é a admiração que, no meu caso, advém da coerência e assumpção de determinadas posturas, mesmo que contrárias às minhas. É muito enriquecedor e um belo exercício de saída da nossa área de conforto.
  17. O assumir da responsabilidade é das coisas mais importantes da vida e dos valores que quero mesmo mesmo passar aos meus filhos. Mesmo (e sobretudo) quando fazemos asneira.
  18. Temos de saber escolher as nossas guerras. E temos de ter consciência que isso pode dar cabo de nós emocionalmente. Há guerras que vale a pena levar até ao fim e outras não, e o tal desgaste emocional tem de ser levado em linha de conta!
  19. O mundo é tão vasto e com tantas coisas que é muito difícil aprofundarmos os assuntos. A comunicação social é muito parcial e a dificuldade está em encontrar filões de informação segura, honesta e imparcial. Por isso boa parte das nossas opiniões são infundadas e, na maior parte dos casos, o silêncio é de ouro.
  20. Quando levamos um assunto até ao fim, vemos que não poderemos nunca agradar a gregos e troianos. Puxarmo-nos até ao limite da coerência e dos nossos valores relativamente a um assunto é um processo brutal, doloroso e, creio, irreversível. É como a pastilha de verdade do Matrix e custa aceitarmos essa parte de nós.
  21. As coisas têm geralmente vários pontos de vista e a verdade não é a branco e preto. Há sempre lados bons e maus, em tudo! Resta-nos fazer escolhas coerentes com a nossa escala de valores.
  22. Apesar de valorizar muito as prioridades, a teoria e a prática são bem distintas! Tentar manter a distância de si próprio é sempre útil.
  23. As prioridades topam-se à distância através do tempo, presença e dinheiro que investimos nelas. Ah pois.
  24. A comparação pode ser muito útil, mas regra geral é um jogo muito estéril, para não dizer frustrante e desmotivador.
  25. A escrita é terapêutica. Descobri desde que comecei este site.
  26. Estar atentos aos nossos próprios sinais é primordial para a nossa sobrevivência!
  27. A cozinha não é a minha praia e estou em paz com isso. Apesar de defender uma alimentação saudável, massa com omolete de queijo, salada e fruta está muito bem. Mesmo que esta refeição se repita muitas vezes por mês.
  28. Há poucas coisas perfeitas, mas duas delas são a minha receita de bolo de chocolate e a forma de cozer polvo: ainda congelado (tamanho pequeno entra melhor), metê-lo na panela de pressão apenas com uma cebola descascada inteira e mais nada. Esperar que panela comece a apitar, baixar o lume e esperar 25 a 30 minutos. Apagar o lume, esperar que arrefeça e o polvo fica ultra macio ❤
  29. Saltos altos fazem joanetes e isso dói muito, mas não há nada como usar saltos para nos dar confiança quando precisamos.
  30. As aparências contam muito, dê lá por onde der. E sim, as pessoas bem cuidadas e vestidas são mais bem tratadas que quem anda num estilo mais baldas. É injusto mas é assim. Basta fazer a experiência…
  31. Não é preciso muito para se ter boa pinta: básicos de qualidade, cabelo e pele bem cuidados, sapatos limpos, bons acessórios. E, sobretudo, costas direitas, cabeça como que puxada para cima, sorriso nos lábios 🙂
  32. Descobri ao fim de muitos anos que não há nada como passar o fio dentário pela dentadura completa todos os dias. Não há dentes como os nossos e uma boa dentição depende de 3 factores: genética, alimentação e limpeza. A boa notícia é que podemos intervir com grande sucesso nos dois últimos!
  33. Dormir é o tempo mais bem gasto do mundo. Faz uma limpeza ao nosso cérebro, ilumina a nossa cara e, sobretudo, o nosso humor 😉
  34. Nós controlamos (parte d)o clima emocional da nossa casa, do nosso ambiente de trabalho, das pessoas com quem interagimos. Remar contra a maré é quase impossível, mas pode dar muitos e bons frutos.
  35. Estar em ambientes naturais e não enfiados em espaços fechados o tempo inteiro costuma desanuviar o nosso mau tempo emocional. Gosto particularmente de perder a vista nos surfistas jeitosos da nossa costa 😉
  36. Ler é outra das melhores formas de gastar o nosso tempo. E há outras quantas cujo pudor me impede de aqui escrever.
  37. Duvido que soubesse estas coisas se não tivesse feito o percurso que fui fazendo. Sou uma sortuda e tenho consciência disso. Se me perguntassem se queria recuar uns 20 anos, acho que não, não queria, apesar de todas as imperfeições da vida que tenho. Só desejo ter a capacidade de continuar a apreciar o que tenho com saúde e optimismo. Venham outros quantos!

Ilustração de Leo Espinosa

melro

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