Dei por mim, há dias, a olhar o meu filho. A descobrir o seu fascínio da descoberta, da primeira vez. A ser testemunha privilegiada do descobrir do mundo que os mais pequenos fazem diariamente.
Isto acontece raramente, confesso. As horas por vezes demoram a passar, mas dentro delas não cabe quase nada. A lista de afazeres é maior do que o cumprido ou riscado da dita lista. Com 3 filhos, a dinâmica é acelerada. Mesmo de férias. Sei que manter rotinas facilita a vida de todos e por isso, apesar de uma maior flexibilidade estival, mantemos globalmente os mesmo horários. O mais pequeno tem um relógio no estômago, o que nos obriga a andar nas horas. Por isso encadeamos as coisas e acabam por tornar-se um pouco mecânicas.
Às vezes aproveito o banho ou a papa do mais novo para pôr a conversa em dia ao telefone. Bem sei, devia estar presente, mas a maior parte das muitas vezes não estou.
Mas desta vez decidi parar.
Ao aperceber-me da magia que acontecia mesmo à frente dos meus olhos, pus de lado qualquer veleidade de estar ao telefone enquanto vigiava o banho. Fui literalmente puxada para o espectáculo que se desenrolava à frente dos meus olhos.
E quando parei e olhei com olhos de ver fiquei à vontade um quarto de hora a olhar para o meu filho no banho. A descobrir a água, o chapinhar, o brinquedo, o barulho que as perninhas fazem no fundo da banheira.
E assim aconteceu a magia do tempo suspenso. Aquela coisa que acontece às vezes, muito raras vezes, em que o tempo pára e temos vontade que aquele momento se eternize. O meu coração dilatou e cresceu, cresceu, cresceu, abraçando aquela acção aparentemente simples, mas carregada de alegria, de promessa, de novidade.
Fala-se muito de mindfulness, que mais não é senão estar verdadeiramente presente, com os 5 sentidos e a nossa consciência. Daí ser habitualmente traduzido em português por consciência plena.
Sou péssima para falar disso, porque estou sempre a pensar num texto em atraso, na chamada a dar os parabéns, na conta que vai passar do prazo para pagar ou do seguro de acidentes pessoais que quero fazer para a prole.
Mas realmente coisas extraordinárias acontecem no nosso interior quando arranjamos disponibilidade – tempo e atenção – para isso.
Claro que não fazia mais nada na vida se ficasse embevecida a olhar para cada um dos putos a fazer qualquer coisa. Mas esta experiência, talvez mais possível graças à natural descontracção estival, fez-me lembrar que é nestas pequenas coisas que a vida acontece.
E fiquei cheia de vontade de tentar que o tempo se suspenda de novo.
Pela minha parte vou tentar parar mais vezes. E olhar com olhos de ver algumas coisas banais do dia a dia.
Alinhas comigo?
pintura de Jeffrey T. Larson
No Mãegazine fala-se de tentar ser melhor mãe. Dois artigos têm muito sucesso por estas bandas – as frases para estimular o amor próprio do nosso filho e como sobreviver a uma birra com proporções épicas. Mas fala-se também de organização, mental e não só, e outras coisas mesmo fixes. Podes também encontrar o Mãegazine no Facebook e Pinterest!
3 comentários sobre “Olhar o meu filho | convite a parar”