O animal está sempre alerta, aliás,
O animal está sempre à coca, à espera do pior.
O animal está num constante estado de vigilância, porque a sua função é defender-nos, por isso
O animal vê uma ameaça em tudo.
O animal protege-nos há milhares e milhares de anos, porque
O animal faz parte da evolução da espécie humana.
O animal habita na parte mais recôndita do nosso cérebro, na parte límbica. Por assim dizer
O animal habita na zona mais profunda – e primitiva – de nós.
O animal não conhece o presente ou o passado ou o futuro. Para ele é sempre presente, por isso
O animal vive TUDO com muita intensidade.
O animal não costuma andar à solta.
O animal costuma estar controlado e, dentro do género, domesticado.
O animal é domesticado pelo córtex pré frontal, que o regula.
O animal, quando domesticado, recebe mensagens do córtex pré frontal a dizer que não é o fim do mundo:
o atraso
a resposta torta
o iogurte estatelado no chão
a porta batida
o leite entornado
a birra
a água salpicada fora da banheira
a lentidão dos gestos
O animal é globalmente semelhante de pessoa para pessoa, mas varia muito a forma como está domesticado – logo, como reage.
O animal pode ter frequentado uma escola boa, com regras e muito, muito afecto.
O animal pode ter sido criado ao Deus dará, como um selvagem, sem rei nem roque.
O animal reage conforme o treino que teve.
O animal manifesta-se de diferentes formas, mais ou menos exuberantes, mais ou menos frias.
O animal pode soltar-se mais ou menos facilmente. Lá está – dependendo do treino a que foi sujeito.
A maior parte das vezes que o animal se solta, não é bonito de se ver.
O animal transfigura-nos, tira-nos de nós.
O animal cega-nos, e aos nossos gestos também.
O animal faz-nos ir para o outro lado do espelho, para uma realidade paralela de que dificilmente suspeitamos a existência.
O animal não reconhece os nossos próprios filhos, acha que são inimigos a abater.
O animal reage de forma desproporcionada porque é a nossa sobrevivência que está em causa. Por vezes essa questão de sobrevivência é apenas
o atraso
a resposta torta
o iogurte estatelado no chão
a porta batida
o leite entornado
a birra
a água salpicada fora da banheira
a lentidão dos gestos
O animal solta-se mais facilmente em certas condições, como a privação (prolongada) de sono; a falta de açúcar no sangue; uma fase particularmente stressante, física ou emocionalmente.
O animal pode ser domesticado à posteriori, com décadas de existência. Nesses casos
O animal é mais resistente ao treino, mas com doses cavalares de paciência, e muitos avanços e recuos, o animal começa a ir ao sítio mais facilmente.
O animal amansa com a meditação, diz quem sabe
O animal amansa com estratégias de distracção.
O animal amansa com muuuuuuuuuuuuito esforço da nossa parte.
O animal não nos enche de orgulho, ao contrário do cão ou gato (ou canário ou tartaruga ou…), mas faz parte de nós e não o podemos ignorar.
Resta-nos por isso empenharmo-nos o melhor que pudermos para o treinar, esperando que esse auto domínio contribua para modelar os nossos filhos, que mais facilmente aprendem a domesticar o seu próprio animal.
ps – podem substituir o animal por a besta, se preferirem um substantivo feminino
No Mãegazine abordam-se as tentativas, as estratégias, os sucessos e os falhanços da domesticação do animal. Um dia após o outro: uns melhores, outros piores. Também se abordam outras questões, que podes descobrir seguindo por mail, Facebook ou Pinterest
Muito bom!! Beijinho
CurtirCurtido por 1 pessoa