É com muito orgulho que aqui publico, em ante estreia, um artigo sobre a empatia. A sua autora é a Doutora Inês Franco Alexandre, psicóloga clínica especializada em Terapia Familiar e doutorada pela Universidade de Coimbra. A empatia, a capacidade de escuta e de verdadeira compreensão do outro são características tramadas, pois exigem muito de nós, mas são também das características mais necessárias para a nossa vida em sociedade. Como sociedade em miniatura que a família é, este artigo faz ainda mais sentido: como educar para a empatia?
Educar para a empatia
Ao longo dos meus anos enquanto psicóloga e terapeuta familiar, tenho-me perguntado sobre como posso transferir a aprendizagem que vou fazendo com as pessoas com quem trabalho para o mundo da educação e da parentalidade. Cada vez mais, na minha vida em geral, me deparo com a dificuldade, de alguns adultos, de se emocionarem com os outros, capacidade fundamental e necessária para amar…e ser amado. Do mesmo modo, acredito profundamente que em terapia só é possível ajudar alguém se tivermos a capacidade de genuinamente estarmos com ela. Desde há algum tempo que me pergunto como poderemos desenvolver e potenciar esta capacidade nas crianças.
Empatia significa a capacidade que nos colocarmos no lugar do outro, tentando sentir o que ele sente nas circunstâncias em que se encontra. A palavra empatia tem origem no termo grego empatheia, que significava paixão. Empatizar implica assim uma identificação com o outro, sentir como ele, o que pressupõe uma ligação afectiva com outra pessoa. Distingue-se da simpatia, que se caracteriza pela atracção que sentimos por outro e que levará a uma resposta agradável, mas que não implica sentir com e como a outra pessoa.
Adultos com uma maior capacidade empática têm mais capacidade de ajudar os outros, são mais solidários e têm uma maior capacidade de estabelecer relacionamentos profundos. No entanto, o que aparentemente parece tarefa simples, ou decorrente de um traço genético com que afortunadamente se nasce ou não, é uma capacidade não tão comum como desejaríamos, e resultado da interacção de vários factores, entre os quais a relação que temos com os nossos primeiros e principais cuidadores: pais, familiares próximos, educadores, pares.
Ser empático não é uma única tarefa, mas pelo menos duas: identificar a emoção do outro e evocá-la em mim. Significa que tenho de ter a capacidade para ler os sinais do outro que me permitem identificar a emoção em causa, ter um leque variado de emoções no meu percurso, aceitar essas emoções e não ter medo nem fugir delas e saber geri-las. Por exemplo, se fujo constantemente da emoção da zanga porque não gosto de conflitos, terei pouca capacidade de sentir a zanga do outro. Ter a capacidade de empatizar com outro implica, em primeiro lugar, estar em contacto com as suas próprias emoções. Como poderei sentir a tristeza de alguém se não consigo sentir a minha?
Assim, tendo em conta esta multi-tarefa que é ser empático, de que modo poderemos, enquanto pais, tios, cuidadores, educadores, ajudar as crianças a serem adultos mais empáticos, solidários, compreensivos?
As primeiras dicas/tarefas que proponho são individuais e para os pais/adultos:
- Deixe-se emocionar! Com a sua vida, com um livro, uma música, um filme. Viva e expresse as suas emoções para si mesmo. Lembre-se: se não sentir as suas emoções, como sentirá as do seu filho?
- Expresse as suas emoções de uma forma clara. Nomeie as suas emoções: estou triste, estou zangado/a, estou contente, estou frustrado/a, estou alegre, estou relaxado/a. Se ajudar, faça o que chamo de mapa emocional: vá registando o que vai sentindo ao longo do dia. Vai admirar-se com as diferentes emoções que vai sentindo ou…com a sua dificuldade em notar e nomear nas suas emoções.
- Viva bem com as suas emoções: aceite que há emoções que gostamos mais de ter, e outras menos, mas que todas são boas e muito úteis. Sabia que não viver a tristeza pode contribuir para estados depressivos?
As propostas que faço em seguida são para a sua interacção com a criança. Algumas podem ser utilizadas desde o nascimento, outras apenas depois de ter sido adquirida a linguagem:
1. Faça corresponder a expressão emocional verbal com a não verbal. Por exemplo, não chore de tristeza ao mesmo tempo que diz que está tudo bem. As crianças são sensíveis aos sinais não verbais e às incongruências.
2. Saiba ouvir o seu filho. Desde que nasce, a criança vai expressando as suas emoções. Enquanto não aprende a verbalizar o que sente, utiliza outros meios, como o choro, a agitação motora, a prostração, etc. Desde que o bebé nasce, faça o trabalho (por vezes árduo!) de se deter um pouco a vê-lo e a ouvi-lo, descodificando o que lhe diz. Detenha-se perante a necessidade imediata de calar o choro ou eliminar o mal-estar (tarefa árdua x100!). Isto permitirá que ele sinta que é realmente ouvido e compreendido, e que sabe lidar com as suas emoções. Lembre-se: desde que o seu filho nasce que constitui um espelho e um modelo para ele. Se souber lidar com as emoções da criança, ela saberá lidar melhor com as suas próprias emoções, e também com as dos outros.
3. Olhe sempre para a criança quando fala com ela, desde que nasce, e sobretudo quando expressa as suas emoções. O contacto ocular é um importante meio de ligação e de expressão emocional.
4. Não se culpabilize quando não age como gostaria: quando grita, quando não conseguiu ouvir, quando não teve disponibilidade. Em vez disso, peça desculpa, verbalmente e através de gestos. Dê um beijo ou um abraço enquanto pede desculpa, e responsabilize-se pela sua dificuldade momentânea em gerir as emoções. Muitos adultos têm bastante dificuldade nesta tarefa. Lembre-se: assumir a responsabilidade pelas nossas emoções é sinal de firmeza e coragem, e não o contrário. Verá que o seu filho lhe tem mais respeito e aprenderá a responsabilizar-se pelas suas próprias emoções, em vez de culpabilizar o exterior (os outros, o mundo). Faça isto desde que o seu filho é bebé (sim, bebé!). Os bebés não entendem o que lhes dizemos, mas entendem as emoções que acompanham os gestos e o tom de voz.
5. Expresse através de gestos a sua compreensão pelo que foi expresso, verbalmente ou não, pela criança. Conforte-a quando está triste, contenha a sua zanga ficando com a criança e com a sua emoção. Sempre que possa, não fuja das emoções negativas do seu filho.
6. Alegre-se com a alegria do seu filho: ria-se quando ele se ri, retire prazer daquilo que ele gosta. Empatizar não significa apenas sentir com o outro as emoções negativas, mas também as positivas. Muitos adultos apenas conseguem viver as tristezas dos outros, e não as alegrias, as conquistas, os sucessos. Diga ao seu filho como é bom e divertido estar com ele.
7. Ouça música de que gosta com o seu filho e dance com ele. Com os bebés, dance com eles ao colo. Eles adoram, e é uma excelente forma de partilharem as emoções que a música suscita. Com crianças maiores, dance com elas, permitindo que elas expressem as suas emoções e a vejam a si a fazê-lo. Do mesmo modo, ouça e dance as músicas preferidas do seu filho. A música e a dança são excelentes formas de expressar emoções, e excelentes veículos para entender as emoções dos outros.
8. Quando a criança verbaliza as suas emoções, ouça-a com atenção e reflicta o que lhe diz com outras palavras: ex: “eu compreendo, estás triste porque não podemos ir ao parque e é algo que gostas muito de fazer”; ou “é natural ficar-se assim zangado/frustrado quando nos magoam.
9. Expresse a sua compreensão com exemplos seus: “eu também fico triste algumas vezes. Por exemplo outro dia quando o Tobias estava doente”; “lembras-te outro dia quando íamos para a escola e me irritei? Acho que estava a sentir o mesmo que tu agora”.
10. Faça jogos com as crianças sobre as emoções. Por exemplo, desenhe caras com expressões emocionais para ela adivinhar, e vice-versa. Com crianças pequenas também pode fazer o mesmo gesto com gestos e expressões faciais.
11. Conte histórias de família, inclusivamente de quando era criança. Fale sobre emoções que sentiu e de como ultrapassou alguns momentos. Especialistas dizem que não só ajuda a que a criança tenha um sentimento de pertença, como também a ajuda a encontrar estratégias para lidar com as suas próprias emoções. Além disso, vê-la como humana e não infalível ajuda-o a compreender as suas próprias dificuldades e as dos outros.
12. Leia histórias, muitas histórias. Ajuda a criança a entender as personagens e as suas emoções. Se puder, imprima emoção quando lê a história: faça vozes diferentes, e caras diferentes consoante o que dizem as personagens, para que a criança aprenda a identificar as expressões não verbais associadas às emoções dos outros. Fale com o seu filho sobre o que ele sente pelas várias personagens.
Desejo-lhe um bom trabalho e…divirta-se! Talvez descubra, no final, ou pelo caminho, que foram as crianças que a/o ajudaram a si a compreender-se melhor, a compreender os outros, a amar e a ser amado. E nesse momento, não se esqueça de expressar uma das emoções mais poderosas na criação de bem-estar: a sua gratidão.
Este artigo é da autoria da Drª Inês Franco Alexandre, que podem seguir através do seu Facebook. Aqui no Mãegazine já se publicaram outros textos de diversas autorias sobre a escuta empática, frases para promover o amor próprio dos nossos filhos, estratégias para lidar com birras monumentais e algumas razões que nos demonstram que afinal não estamos a fazer um trabalho tão mau como algumas vezes pensamos☺. Como aqui se publica de forma espaçada, o melhor e seguir através de Facebook, Pinterest ou subscrevendo por email. Até já!
A imagem é da autoria de A.L.O.E (1821-1893)
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