sobre o fazer acontecer

Nem sei bem como começar. Talvez por listas. Começo por aqui porque, pessoalmente, sou fã de listas.

Sou fã porque as listas ajudam-me a organizar-me, a saber o que fazer a seguir.

Tenho a cabeça tão cheia de tralha que quando me lembro de uma coisa quero logo apontá-la, para não me esquecer. Por vezes, a caminho do papel ou do sítio onde vou tomar nota, já me esqueci. E tenho de retomar o percurso, na esperança de que o mesmo trajecto visual me dê pistas do que se desvaneceu.

Tenho listas plastificadas, e que poupam uma trabalheira. Desde que aderi (muito recentemente) a compras de supermercado online, fiz uma masterlist exaustiva, com tudo o que preciso/costumo comprar. Corro-a antes de clicar em ‘pagamento’, antes de fechar as compras.

Tenho agendadas, na agenda, tarefas como aspirar a casa, trocar lençóis, trocar toalhas e por aí fora. Ajuda a manter a casa e a cabeça arrumadas.

Tenho folhas soltas com as coisas que quero fazer, coisas banais outras nem por isso. Vou riscando ou apagando, e que gozo me dá!

Mas há listas que não faço, e se calhar devia. Devia porque pelo facto de escrever os afazeres a que me proponho, faço com que os mesmos aconteçam. Compro o azeite que está no fim, aspiro a casa à 5ª e troco os lençóis regularmente.

Quando somos intencionais, fazemos as coisas acontecer

Ora isto é válido para a gestão doméstica e para a produtividade no trabalho também. Antes de me por à doida a fazer coisas, o acto de reflectir e tomar nota do que quero que aconteça nesse dia aumenta drasticamente as hipóteses de que as mesmas vejam o dia.

Mas o que dizer do tempo com a miudagem? E de namoro? E tempo para conhecer o filho da nossa amiga/irmã que nasceu há 4 meses e ainda não vimos? E o tempo para ir ao cinema ver aquele filme que gostávamos tanto? E para fazer uma caminhada/dar umas braçadas/etc?

Dou por mim a dizer muito facilmente: temos de combinar; quando começar a primavera vamos ali; havemos de ir ao Planetário com os miúdos; temos de nos encontrar com x que não vemos há que tempos; etc. Mas a maior parte das vezes fico apenas pelas boas intenções. E sei que os outros fazem o mesmo.

Porquê? Porque a vida é assim. É mais fácil organizar, planear e fazer acontecer coisas que dependem mais ou menos só de nós, do que fazer acontecer coisas com outras pessoas. É preciso ter muita força de vontade, ser-se intencional, para que as coisas aconteçam, para que as relações se fortaleçam. Isto não acontece de forma natural.

Posso estar redondamente enganada, mas diz-me a prática que natural é cada um tratar da sua vidinha, fechar-se num casulo, culpar a rotina e espantar-se com o tempo que passa, apesar dos dias serem mais ou menos iguais.

Estamos tão absorvidos a trocar fraldas/dar jantares/ajudar nos trabalhos de casa/trabalhar para levar o pão para a mesa/consolar choros/manter a casa nos mínimos/ensinar boas maneiras/etc/etc/etc que tudo o resto nos parece impossível.

Mas é possível comprometermo-nos de forma a que as relações se estreitem, as saídas com os amigos aconteçam, o tête-à-tête com cada filho tenha lugar, ajudar a que as borboletas no estômago se agitem de novo.

A Maria escreve num blogue que saltou directo para os meus favoritos, e não é para menos. Mãe de 4, organiza regularmente jantaradas em sua casa para amigos (e desconhecidos!) – a Cena – e até arranjou uma forma de recompensa de bom comportamento que resulta em tempo para cada um dos miúdos – a semanadaOh caramba! Ah pois!

Mas isto não acontece por acaso. Analisando o que escreve, vemos que 1. gosta de cozinhar (o que não acontece com muito boa gente, como eu), 2. se compromete dias antes e por isso tem mesmo de receber as pessoas em casa, 3. baixa as expectativas – de manter a cozinha reluzente, por exemplo. Com a semanada também se compromete, e esforça-se por cumprir.

Temos de ser realistas, não vamos desatar a ligar a toda a gente e encher a agenda de encontros, além de que o tempo de casulo é essencial. Mas de acordo com a nossa verdadeira disponibilidade, podemos pensar um bocadinho aquilo que gostávamos de fazer acontecer, tomar nota num papel, comprometermo-nos, marcar na agenda e… cumprir!

ilustração de Giulia Orecchia

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