Vou partir do pressuposto que pensas como eu:
Chega o Natal e achas, porque é Natal, que as coisas vão correr bem. Afinal é o mês de Dezembro, da generosidade, de um Salvador que traz boas notícias, nomeadamente de esperança para o nosso mundo cansado, poluído, injusto, corrupto e corrompido, mesquinho, avaro e egoísta. Mesmo que não acredites em salvadores nenhuns, acalentas a íntima esperança de que desta é que é, as coisas vão ser diferentes, o mundo vai ficar melhor.
Consomes-te em listas de presentes e idas às compras, de prendas ou de comida ou dos ingredientes para cozinhares. Aguarda-te a noite da consoada. Ainda que te mantenhas à margem dos reclames mediáticos, é difícil escapar à pressão societal: o Natal está aí.
O Natal é muitas coisas, diz quem sabe. Mas o Natal é, para a sociedade em geral, a festa da família. É *a* reunião familiar anual, tão bem encenada numa famosa campanha publicitária alemã que deu a volta ao mundo. Podemos andar pelo mundo fora, mas jantamos juntos na noite de 24 de Dezembro dê por onde der.
Aaaaah, o jantar de Natal! Na casa de quem? Este ano é cá em casa ou vamos para a tua família? É que no ano passado foi com a minha família, vamos rodando. Mas na realidade não estou com paciência para os teus pais, prefiro lá ir picar o ponto no almoço de 25, pode ser?
E lá vêm as bocas, as implicâncias habituais. Não agasalhas bem a criança e depois admiras-te que esteja sempre com bronquiolites! Oh rapaz, a tua mulher não te alimenta, ou quê? Estás magrinho e com má cara! Mas o puto não devia já estar a ler? O Pai Natal passou lá em casa mais cedo e por isso vamos lá abrir as prendas! Mas tens de estar sempre colada ao telefone? Eu ofereço-me para ajudar na cozinha, mas ela diz que não quer…
É tramado gerir o que eu, o que tu e o que ele quer. São muitas vontades e expectativas a gerir. Com sorte, se houver espírito de entreajuda e se as idiossincrasias ficarem à porta (do lado de fora) a coisa corre bem. Às vezes até corre muito bem. Outras vezes nem por isso, pelos mais diversos motivos.
E assim se passa o Natal.
Afinal de contas não são só as crianças que têm pensamento mágico – também nós temos. E passado o dia 25, a enfardar em casa ou em peregrinação pelas casas familiares, chegamos ao dia 26. Passou a magia, lemos as notícias – afinal não houve milagre nenhum, está tudo na mesma se não pior.
Ah, mas espera, vem aí o ano novo!
(pensamento mágico de Dezembro parte II)
Desta é que vai ser. Não há nada como um ano novo, fresquinho, uma agenda por estrear, uma lista de boas intenções. Desta é que é. Vou fazer exercício. Vou emagrecer. Vou passear mais. Vou estar regularmente com os meus amigos. Vou finalmente fazer aquela viagem. Vou fartar-me de ler. Vou visitar aquela coisa que ando há uns tempos com vontade de ver. Vou rever a malta da escola. Vou passar mais tempo com os miúdos. Vou deixar de gritar. Vou deixar de fumar. Vou passar menos tempo a ver ecrãs. Vou passar a ir ao cinema. Vou pôr a série de que gosto em dia. Vou arrumar a casa. Vou desfazer-me de metade das tralhas como a japonesa manda. Vou acordar mais cedo. Vou deitar-me mais cedo. Vou dormir mais. Vou cortar o açúcar. Vou cortar no glúten. Vou tratar de mim. Vou gastar o voucher da massagem que está a passar do prazo.
Vou.
Vou?
Vais?
A sério?
A sério?!?!?!
A minha resposta é – vou tentar. E vou desenvolver isto num próximo texto. E vou hoje ficar por aqui. Ai vou, vou 😉
pintura de Dorian Vallejo
Aqui no Mãegazine não há resultados milagrosos, mas há esforços – honestos. E há a promessa de desenvolvimento deste tema ho(t) ho(t) ho(t) tão ao espírito da época. Não percas pitada seguindo por mail (aquela coisa pequena a dizer seguir no fundo à direita), Facebook ou Pinterest.
6 comentários sobre “Resoluções de Ano Novo | o pensamento mágico”